terça-feira, 21 de setembro de 2010

REI DA MATA

O seu coronel mandou
Mata virgem derrubar
Pro mode naquela terra
Mil pés de café plantar

A mata foi se sumindo
Vamos gente, acabar!
Preto Velho até chorava:
-- Rei da Mata vão matar

Quando o machado cortou
O velho Jacarandá
Ouviu-se um gemido triste
Nas quebradas reboar

Jacarandá Rei da Mata
Veio Quatorze esmagar
Todos quizeram fugir
Nenhum puderam andar

O Rei da Mata castiga
Quem vem mato derrubar
Os mais velhos já diziam
Primeiro vamos rezar...

Versos anônimos, do cancioneiro
popular do Vale do Paraíba do Sul
em "BRASIL VIVO  -  Uma Nova
História da Nossa Gente" de Chico
Alencar, M.V. Ribeiro e C. Ceccon
ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1986

sábado, 18 de setembro de 2010

A CARTA DE CAMINHA

Senhor:

Posto que o Capitão-mor desta nossa frota, e assim outros capitães, escreveram à Vossa Alteza a nova do achamento dessa vossa terra nova, (…) não deixarei também de dar disso conta à Vossa Alteza, assim como eu melhor puder. (…)

E nesse dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, seja, primeiramente de um grande monte, mui alto e redondo, e doutras terras mais baixas ao sul dele, e de terra chã, com muitos arvoredos; ao qual monte alto o Capitão poz nome – o Monte Pascoal e à terra – Terra de Vera Cruz.

Ali verieis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos, como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. (...) A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nús, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. (...) Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de nós as muito bem olharmos não se envergonharam (ou: não nos envergonhamos).

Enquanto andávamos nessa mata a cortar lenha, atravessaram alguns papagaios essas árvores; verdes uns, e pardos, outros, grandes e pequenos, de sorte que me parece que haverá muitos nesta terra. (...) Vários diziam que viram rolas, mas eu não as vi. Todavia, segundo os arvoredos são muitos aqui, e grandes, e de infinitas espécies, não duvido que por esse sertão haja muitas aves! 

E cerca da noite volvemos para as naus com a nossa lenha.

E foi o Capitão com alguns de nós um pedaço por este arvoredo até um ribeiro grande, e de muita água… Ali descançamos, bebendo e folgando, ao longo dele, entre esse arvoredo que é tanto e tamanho e tão basto e de tanta qualidade de folhagem que não se pode calcular. Há lá muitas palmeiras de que colhemos bons palmitos.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra aqui é de muito bons ares… Em tal maneira graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por causa das águas que tem.

E dessa maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco me alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que eu tinha de vos tudo dizer, mô fez assim, pelo miúdo.

Beijo as mãos de Vossa Alteza.

Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, 
hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Pero Vaz de Caminha

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

CARNAVAL URBANO FLORESTAL

Quando os varões portugueses
As penetraram pela primeira vez
As virgens terras brasileiras
Eram um verdaeiro Inferno Verde!
Lar de bárbaros nudistas
Bruxas, bestas e todos os tipo
            de insetos peçonhentos...

Desde então, Eles tem dado duro
Pra deixar a Terra totalmente limpa!
Mas parece que não funcionou...
É portanto, que até este instante,
O Brasil tem sido esse
Carnaval urbano florestal!

No Rio a Floresta reina
E a Natureza domina o Homem...

escrito por Danddara em Nova York, 1994
gravado no mesmo ano no Studio Pass 
como parte da Residência Artística
concedida pela Harvestworks Inc.

URBAN FORESTRY CARNIVAL

When the Portuguese men
First penetrated
The virgin lands of Brasil
I was such a Green Hell
Home of nudist barbarians
Witches, beasts and all kinds
              of poisonous insects.

Since then, they´ve been trying hard
To get the Land totally clean!
But it hasn´t quite worked...
That´s why, until now
Brasil has been
Such un urban forestry carnival!

In Rio the Forest rules
And Nature submits Mankind...

written by Danddara in New York, 1994
Recorded @ studio pass as part of the
Harvestworks Inc. Artistic Residence Prize